
Técnica em Química, Engenheira Química, cantora e compositora, sobrinha neta de Pixinguinha cedeu seu talento aos colegas durante a cerimônia de homenagens no Dia do Químico 2024. Conheça Paula Almeida Esteves.
CRQ - O que chegou primeiro, a música ou a Química?
Paula: A música chegou primeiro, porque eu venho de uma família musical, com ancestralidade. Sou sobrinha neta de Pixinguinha, que era irmão da minha avó, e cresci nesse ambiente de música, mas efetivamente meus pais não achavam que a música era um caminho, digamos, próspero. Sou a mais nova de quatro irmãos, numa família que não tinha muitas posses, e minha mãe sempre falou que tínhamos que fazer prova para a escola técnica, porque é uma escola de qualidade, e porque não tinham dinheiro para pagar escola para os quatro. E esse também é um ambiente no qual cresci, pois meu irmão mais velho fez as provas e já era piloto da Aeronáutica, o outro foi técnico no CEFET, então eu sabia que eu também tinha que ser técnica. Fiz a prova, passei e escolhi a antiga Escola Técnica Federal de Química (hoje IFRJ). Me formei na Escola Técnica e digo que foi a escola de formação da vida, onde a gente aprende a ser gente. Não me vejo hoje sem ter passado por aquela vivência. De forma natural, ao acabar a Escola Técnica, vem a questão: vou fazer Química Industrial? Engenharia Química? Digo de forma natural porque acho que com aquela idade é difícil alguém ter consciência clara do que quer fazer. Então minha escolha foi pelo caminho que achava que daria certo, pois já estava trabalhando como técnica. Então fui fazer Engenharia Química na UERJ, carreira que gosto e admiro demais. Mas a música sempre andou paralela comigo. Era assim: Paula, vai ter uma festinha, você pode dar uma canja? Eu sempre estava disponível para festas familiares, festas de amigos e mais. Eu nunca larguei a música, sempre tive esse sonho guardado.
CRQ - O curso técnico aconteceu como um encaixe da vida, mas a Engenharia Química já foi uma escolha, porque já conhecia um pouco desse universo, certo?
Paula: Sim, ali já foi uma escolha minha, mesmo.
CRQ - E como você vê sua atuação como Engenheira Química, a partir dessa escolha?
Paula: Na verdade, iniciei meu trabalho como Analista Química e quando ocupei um cargo de Engenheira, atuei mais na parte de planejamento. Eu trabalho no SMS (Segurança, Meio Ambiente e Saúde) da Petrobras, trabalho com gestão e planejamento, e é preciso ter os conhecimentos. E sou muito feliz nesse trabalho, porque hoje eu vejo claramente as orientações dos meus pais. É um trabalho que me dá retorno financeiro, um ambiente fantástico e então minha escolha foi muito acertada. Talvez se eu tivesse escolhido a música naquela época, eu não sei se eu estaria onde estou, com a clareza que tenho, com tudo o que a Engenharia me deu. Sou grata pela escolha e pela minha carreira.
CRQ - Então você está satisfeita com esse equilíbrio entre as duas carreiras?
Paula: Hoje estou, sim, porque antes não existia esse equilíbrio. Antes não conseguia cantar profissionalmente, que era algo que eu queria muito. Se me perguntam o que é o sucesso, digo que sucesso é conseguir fazer o que tinha em mente, sua meta. Se hoje acontecesse, por exemplo, de estourar como música, eu teria que optar entre as duas atividades. Mas do jeito que estou hoje eu não preciso escolher, porque consigo conciliar as duas.
CRQ: E ter que optar seria muito difícil?
Paula: Seria muito difícil! A carreira na música ainda é muito incerta, quem ganha dinheiro com música são uns poucos, nem sempre está ligado somente a talento. É um misto de coisas que levam alguns a aparecerem. Parece que as pessoas gostam mais (dos músicos) por serem famosos, menos do que pelo talento. E, na verdade, o mundo artístico pode ser bem cruel e eu acho que não pagaria para ver.
CRQ - E, falando em equilíbrio, como você concilia a música e a Química?
Paula: Procuro pegar trabalhos com a música que comecem à noite. Geralmente, quando tem trabalho durante a semana, são no máximo dois dias. Às quartas-feiras faço parte do projeto Aos Novos Compositores, no Beco do Rato. Participo do projeto e canto as minhas composições. E também temos uma banda, a Samba Perfumado, mas o que acontece mais é festa particular. Os contratantes normalmente vão oferecer um valor baixo e sempre há alguém que aceita. Mas, como eu tenho outra função, não faz muito sentido pegar trabalhos durante a semana que vão me cansar e influenciar no meu trabalho na Petrobras. Prefiro ficar tranquila durante a semana e no final de semana fazer trabalhos maiores. Então eu me mantenho focada: durante a semana, só à noite e no final de semana, como agora não trabalho pela empresa nos finais de semana, vou para a música.
CRQ - O samba é o ritmo que você mais se identifica?
Paula: Eu diria que é a música popular brasileira em geral, mas mais voltado pro samba. Mas canto chorinho, samba dolente, partido alto...e componho também. Inclusive, acabamos de ganhar um prêmio por composição. Houve um concurso, na Casa de Malandro, na Lapa, que queria um hino para o santuário do Zé Pilintra e eu sou “a louca” dos concursos de composição. Fizemos a música, minha parceira de voz e eu, e nos inscrevemos. Quando ouvimos a música, achei mesmo que estava boa. Passamos nas fases e acabamos vencendo o concurso.
CRQ - Você participou na cerimônia de comemoração do Dia do Químico. Já teve outras experiências de literalmente misturar as duas atividades, cantando na área da Química?
Paula: Já! Tive essa experiência na Petrobras e em outras empresas onde trabalhei. Quando tem alguma festa particular você vai canta, então as pessoas do trabalho acabam sabendo que canto e quando acontece na empresa, geralmente pedem pra cantar. E normalmente é o seu gerente! No último final de ano tivemos uma confraternização, dentro das dependências da Petrobras, e me contrataram para um show. No começo a festa é um pouco travada, mas quem canta tem a missão de puxar as pessoas. E fiquei muito feliz porque acho que consegui. Vi gerentes lá que normalmente são mais reservados pegando o microfone e cantando. Fiz até uma postagem sobre isso, dizendo como é difícil e legal conseguir conciliar dois amores da sua vida.
CRQ - Podemos dizer então que a música também se torna uma ferramenta de socialização no ambiente de trabalho?
Paula: Muito! Depois dessa festa de final de ano na Petrobras, por exemplo, que foi na sexta-feira, na segunda-feira quando cheguei várias pessoas vieram falar comigo.
CRQ - Então voltamos a falar em equilíbrio?
Paula: Sim. A Petrobras é uma empresa que tem muitas pessoas de tecnologia, de exatas, e é engraçado às vezes porque sempre que precisam de algo mais artístico, digamos, mandam pra mim. Fazer um roteiro para confraternizações, por exemplo, e ao mesmo tempo ser engenheira me ajuda a ter mais foco, planejamento. Tem horas que me vejo diferente da maioria dos músicos, pois chego sempre na hora marcada, quero saber tudo o que foi acertado, em detalhes.
CRQ - Algo mais a falar?
Paula: Sim. Gostaria muito de agradecer ao presidente Harley pelo convite. A festa dos Químicos acontece há muito tempo, eu já tinha sido convidada e nunca tinha participado. Nessa oportunidade, como estamos em um grupo comum de mensagens, o presidente consultou e uma outra amiga me chamou também. Eu disse sim, só que esqueci de marcar na agenda. No dia do evento o presidente me chamou de novo e eu não tinha marcado nada. Mas deu super certo e foi muito bom rever pessoas que eu não via há muito tempo e naquele ambiente. Foi muito legal mesmo ter mais pessoas conhecendo esse meu trabalho, recebendo meus cartões e acabei ganhando mais seguidores entre os que estavam lá.